A UTOPIA DO MILHÃO DE AMIGOS
Publicado em O Jornal de Hoje e O Mossoroense
Nem o pessimismo do antigo ditado, “Amigos, contam-se nos dedos da mão”, tampouco, o exagero da canção de Roberto Carlos, “Eu quero ter um milhão de amigos”. Considerando amigo, aquela pessoa com a qual nos preocupamos e com quem mantemos contato pelo menos uma vez por ano, o antropólogo britânico Robin Dunbar, da Universidade de Oxford, estabeleceu que o nosso cérebro só consegue administrar 150 amigos.
Este valor batizado como “o número de Dunbar” foi estabelecido em 1992 sendo função do tamanho relativo do neocortex humano ou a parte do cérebro responsável pela linguagem e pensamento. Trata-se de um limite cognitivo teórico do número de pessoas com quem outra pessoa pode manter uma relação social estável. Em artigo publicado naquele ano, Dunbar fez uma correlação de um estudo entre primatas não-humanos para prever o tamanho do grupo social entre humanos.
O tamanho atual do neocortex foi desenvolvido há aproximadamente 250 mil anos, ou seja, durante a época do Pleistoceno. Dunbar estudou o tamanho de grupos e tribos a partir do neolítico. O número 150 está quase sempre presente, seja nas tribos, na comunidade dos huteritas (descendentes de um grupo protestante sabatista), ou no tamanho da unidade básica do exército profissional na Roma Antiga ou nos tempos modernos a partir do século 16.
Recentemente em entrevista para um jornal inglês, Dunbar afirmou que, independente do grau de sociabilidade do indivíduo, o número 150 permanece mesmo nas comunidades modernas disponíveis na internet, tipo “facebook” ou “orkut”. Estes sites de relacionamento são incapazes de aumentar a capacidade de administrar do cérebro. O indivíduo pode ter uma lista de mais de mil amigos, mas o círculo íntimo não ultrapassa 150.
A pesquisa constatou também diferença entre os comportamentos de homens e mulheres. Eles mantêm as amizades quando realizam algo em conjunto. Elas são capazes de preservar amizades apenas conversando. Aliás, para o pesquisador, a linguagem pode ter favorecido a coesão das sociedades primitivas, ao mesmo tempo em que diminuía a necessidade das interações físicas e sociais.
Um pensador espanhol chamado Mateo Alemán que viveu no século 16, entre a sua imensa coleção de frases, deixou um pensamento bem pertinente relacionado com o número de amigos: “Devem-se buscar os amigos como os bons livros, pois a felicidade não está em que sejam muitos, nem sejam mui curiosos, antes que sejam poucos, bons e bem conhecidos”.