Ailton Salviano – Publicado em O Jornal de Hoje (26.06.2009)

O historiador e ensaísta satírico, escocês Thomas Carlyle (1795-1881), certa vez ao comentar do ponto de vista histórico e concordar com a atitude do imperador romano César Augusto (18 a.C.) que diminuiu o número de senadores de mais de mil para 600, disse: “uma assembléia com mais de mil membros pode fazer apenas uma coisa – destruir”.

Se vivesse no Brasil nos dias atuais, Carlyle certamente estaria estarrecido e comprovaria que o ato de destruição de uma assembléia, no caso o nosso senado, depende muito mais de ações corporativistas que do próprio número de senadores. Aqui eles são apenas 81 e pela Constituição (artigo 44) deveriam representar os Estados. Mas, de forma egoísta, alguns defendem cegamente seus interesses, atropelam os ditames democráticos e maculam a nossa Câmara Alta por onde passaram e ainda estão tantos brasileiros ilustres.

Amparados por uma legislação política anacrônica e blindados por um corporativismo vergonhoso alguns senadores cometem os atos mais torpes e abjetos contra a nação e com a aquiescência dos pares, se enclaustram como um esporo daninho e assim permanecem impunes até germinar numa nova fraude na primeira oportunidade. Que pensam esses senhores? Estarão acima do bem e do mal?

Entristece-me, na condição de eleitor, assistir a algumas raras vozes de figuras notáveis do senado, que educada e bravamente tentam ressuscitar a imagem da casa. Porém, essas vozes são quase sempre abafadas e reprimidas ou não ecoam em um ambiente mais adequado às desavenças, chantagens e rixas pessoais que aos parlamentos de discussões ideológicas onde são defendidos os interesses da pátria.

O senado, nesses últimos meses, deixou de ser a mais alta assembléia democrática da nação, local de discussão dos importantes temas das decisões políticas do país, para transformar-se num vergonhoso palco de teatro de bulevar onde a cada semana aflora um escândalo – uso indevido de passagens aéreas bancadas pelo erário, abuso de criação de cargos desnecessários, ações desonestas de diretores ímprobos, atos secretos numa tentativa de burlar a sociedade, contas paralelas.

Certamente, a fração infecciosa do nosso senado age como se todo o país fosse feito apenas de analfabetos políticos de memória volátil que podem reconduzi-los ao cargo tantas vezes quantas eles desejarem. A apologia à ignorância parece que fez escola em nosso país. Aqueles que deveriam ser o exemplo da ética, da dignidade e da honra estão fascinados pelas mordomias que lhes oferece o cargo e querem mantê-las a qualquer custo.

Ao invés de usarem a transparência nos seus atos, agem de forma oculta, apelam para as brumas do secreto para encobrir atos perniciosos de lesa-pátria. Até quando teremos que engolir tudo isso? Não foi essa a democracia que me ensinaram nos bancos escolares e que alguns colegas de curso morreram por ela. Nunca a célebre frase de Abraham Lincoln foi tão adequada: “Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente”.
A pátria, envergonhada, lamenta.

  1. 4a-feira – 01 de julho de 2009

    http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

    Sarney espera Lula para renunciar à presidência

    O senador José Sarney (PMDB-AP) passou o dia, ontem, nervoso. Suas mãos tremiam. O rosto estava congestionado. A família temeu pela saúde dele.

    Hoje, quem esteve com Sarney encontrou um homem calmo, em paz. É sinal de que tomou uma decisão quanto ao seu futuro. Aguarda somente a chegada de Lula ao Brasil para informá-lo em primeira mão.

    Sarney não se licenciará do cargo de presidente do Senado – renunciará a ele. Informou à mulher e aos filhos.

    A licença prolongaria seu desgaste. E a presidência do Senado ficaria entregue a Marconi Perilo, o primeiro-vice-presidente.

    Perilo é do PSDB. E Lula o detesta. Foi Perilo que alertou Lula sobre o pagamento de mesadas a deputados federais muito antes de Roberto Jefferson detonar o escândalo do mensalão.

    Lula não deu bola ao que ouviu de Perilo. E Perilo, depois, lembrou publicamente que advertira Lula a respeito.

    A renúncia obrigará o Senado a eleger um novo presidente em um prazo de dois meses. Como dono da maior bancada, o PMDB indicará o nome para substituir Sarney.

    É possível que Lula demova Sarney da decisão de renunciar? Possível, é. Mas não é provável. Sarney poderá argumentar que foi abandonado pelo próprio partido do presidente – o que é verdade.

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    Tomara que seja amanhã – dia 02/07/09 – Abraços – Alan

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