Publicado em O Jornal de Hoje – 03.01.2011

As festas de final de ano vieram comprovar o que eu desconfiara havia algum tempo. Primeiro foi numa solenidade para premiar profissionais da comunicação. Logo após a cerimônia oficial, uma banda musical assumiu os destinos da primeira parte da festa. Nada contra a seleção musical ou o tradicional repertório, mas a altura do som era algo ensurdecedor para um ambiente fechado.

O pior de tudo constatei ao conversar com várias pessoas da minha faixa etária e que eram maioria entre os presentes. De forma unânime todos gostaram das músicas, mas reclamaram, sem exceção, da altura do som. Aliás, na atualidade existe uma preferência mórbida por excesso de decibéis. Muitas vezes, uma boa música perde a sua qualidade por conta da exorbitância de potência dos amplificadores de som.

Na entrada do ano novo, milhares de pessoas aglomeravam-se na orla marítima de Natal para presenciar os fogos de artifícios. Nas horas que antecederam à pirotecnia, um bisonho festival de barulho era oferecido compulsoriamente aos presentes. Centenas de veículos poluíam o ar e nossos ouvidos com os mais diferentes tipos e gêneros de música. O som era ensurdecedor e não se podia distinguir qualquer música por conta da intensidade sonora e a proximidade das fontes de som.

Por que as pessoas agem dessa forma? Parece existir uma disputa invisível para se saber quem tem o som mais alto. No embalo desse mau gosto, diversas lojas se especializaram em instalar em automóveis e camionetes um absurdo em termos de decibéis. Nessas horas, os clientes interessados não olham para a qualidade musical, mas para a intensidade do som. Para estes, quanto mais elevado o som, melhor!

A proliferação desse mau costume cresce de forma análoga à complexa escala logarítmica dos decibéis. Alguns simpatizantes do som alto são egoístas: trancam-se nos seus automóveis e torturam impiedosamente os seus tímpanos. Outros são exibicionistas: estacionam as suas máquinas em qualquer lugar e, sem saber se as demais pessoas gostam do seu estilo de música, detonam suas ogivas sonoras sem piedade.

A maioria dos que assim procedem são jovens. Hoje, a música é parte inerente do dia-a-dia da juventude. Quase ninguém está alerta para os danos irreversíveis que o excesso de decibéis pode provocar. A fonte pode ser um simples aparelho MP3 e similares (com máximo de volume) ou um concerto de rock ou “axé music” ao ar livre. Neste caso, o nível de ruído pode atingir facilmente 100 decibéis.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), com base em estudos acadêmicos, considera nocivos à saúde, ruídos acima de 55 decibéis. Durante a noite este valor cai para 40. Especialistas afirmam que receber um impacto sonoro de 100 decibéis por alguns momentos não produz efeito danoso. O perigo está na exposição constante (por mais de 90 minutos/semana) a esses bombardeios sonoros.

Além da perda da sensibilidade auditiva, estudos recentes realizados na Alemanha, comprovaram que a exposição frequente a níveis exagerados de decibéis aumenta os riscos de doenças cardiovasculares. Na França, o Ministério da Saúde lançou recentemente campanha de alerta aos jovens sobre os danos da música amplificada. Embora sério, o problema parece despercebido por nossas autoridades e poderemos estar fomentando uma futura geração de surdos.

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