DE PEARL HARBOR A FUKUSHIMA
Ailton Salviano – Publicado em O Jornal de Hoje – edição de 21.03.2011
Pearl Harbor e Fukushima – dois eventos separados por 70 anos. Período de tempo mais que suficiente para modificar pensamentos, ideologias e comportamentos humanos. Nesta semana em que cenas das catástrofes que abalaram o Japão percorreram o mundo com a velocidade da Internet, uma delas que talvez tenha sido despercebida pelos mais jovens, levou-me à reflexão. Uma frota americana singra o Oceano Pacífico e dirige-se para o Japão. Quão mutável é a espécie humana em todos os sentidos!
No início de 1941, o almirante japonês Isoroku Yamamoto teve a autorização de uma Conferência Imperial para arquitetar um ataque contra a base militar americana de Pearl Harbor no Oceano Pacífico. O Japão considerava que uma guerra contra os Estados Unidos seria inevitável. Motivos políticos e econômicos conduziam as duas nações para um confronto direto. Contrariado pela sua política expansionista aos territórios asiáticos, o Japão retirou-se da Liga das Nações e ainda assinou um tratado com a Alemanha nazista e com a Itália fascista para formar o que passou para a história como os Poderes do Eixo.
Impossível neste exíguo espaço analisar ou comentar todos esses episódios. Porém, o motivo principal deste artigo é o ataque à base de Pearl Harbor. Em 26 de novembro de 1941, uma frota japonesa composta de seis porta-aviões, dotados de 441 aviões de diversos tipos, além de oito reabastecedores e 25 submarinos deixou uma baía nas ilhas Curilas, então pertencentes ao Japão, hoje no domínio da Rússia. Essas ilhas estão bem ao norte do local do epicentro do terremoto de 11 de março de 2011. Certamente também sofreram a ação do sismo e do tsunami.
O trajeto até Pearl Harbor se fez no mais absoluto silêncio. A estratégia do ataque previa a não comunicação via rádio entre os membros da frota e entre a frota e o Japão. Dispostos em algumas linhas na noite do Pacífico, os componentes da frota japonesa eternizaram cenas de filmes americanos e japoneses que exploraram o evento. O ataque se deu na manhã de 7 de dezembro de 1941. Resultado da incursão nipônica: além de profundos danos na estrutura da base, 11 navios e 188 aviões destruídos, 159 seriamente danificados, 2403 militares e 68 civis mortos, 1178 feridos.
Março de 2011. Dias após o terremoto que destruiu o nordeste do Japão, o mundo se estarrece diante de uma profusão de imagens apocalípticas. Países de diferentes ideologias e credos se oferecem para colaborar em socorro às vítimas. Um desastre nuclear se configura com as explosões de usinas nucleares. Dentre elas a de Fukushima. Uma cena marcante: uma frota americana no Oceano Pacífico dirige-se ao Japão para prestar socorro. Ironicamente, faz o percurso inverso da frota imperial que atacou Pearl Harbor em 1941.
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