A MORTE DAS LIVRARIAS
Ailton Salviano – Publicado em O Jornal de Hoje – edição de 03.04.2011
Não se trata de exercício de futurologia. A severa crise que duas das maiores redes de livrarias dos Estados Unidos enfrentam pode ser um sinal de alerta para estabelecimentos congêneres em outros países, inclusive o Brasil. Tendo que encarar o mercado crescente de versões virtuais, as lojas americanas de livros impressos perderam grande fatia do mercado nos últimos dez anos, acumularam dívidas bilionárias e se viram obrigadas a fechar suas portas.
Em 2010 na terra do Tio Sam, a venda das versões de livros virtuais para leitoras eletrônicas (e-readers, tablets) tipo “ipad” e “kindle” ultrapassou a venda de livros impressos (razão de 115/110). Acrescente-se a isto, a aquisição de livros impressos via Internet, opção cada dia mais usada por leitores acomodados. Embora as livrarias estejam quase sempre com grande número de pessoas, a maioria apenas folheia e lê parcialmente alguns livros, sem adquiri-los.
Ainda nos “states”, em passado recente, as grandes redes de livrarias com suas “megastores” foram consideradas as vilãs da falência de pequenos comerciantes livreiros. Agora, essas grandes redes como a Borders e a Barnes & Noble foram afetadas por este sombrio cenário. Alguns analistas previram esta situação. Segundo eles, essas empresas não se adaptaram a tempo às novas tendências do mercado – sua transformação em lojas virtuais.
Quanto tempo levará para esta situação atingir as livrarias brasileiras? Mais cedo ou mais tarde teremos que enfrentar esse mesmo problema. É fato que o nosso país também é palco de um crescente mercado de computadores com participação de todas as classes sociais. Os “tablets” que permitem a leitura de livros virtuais, embora ainda rejeitados pelos conservadores, deixaram de ser um sonho distante e pouco a pouco estão se transformando em realidade.
Na condição de assíduo frequentador de livrarias e contumaz leitor de livros, temo pelo futuro das nossas livrarias. Há uma semana, estive numa grande livraria em Porto Alegre. Adquiri com 21% de desconto, o livro “Liev Tolstói – Os últimos dias”. Como é normal, era grande o movimento de pessoas no interior da tal livraria, porém poucas se dirigiam aos caixas para adquirir alguma obra, apesar das irresistíveis promoções.
A situação é bem diferente com os vendedores de livros usados, os sebos. Seu mercado continua sem alteração. Seus fiéis frequentadores não costumam apenas folhear obras antigas; a maioria compra. Em Brasília, costumo frequentar um setor da Asa Norte onde existem vários e interessantes sebos. Alguns possuem mais de um andar para a exposição de livros. Mesmo assim, essas lojas dispõem de amplos espaços na Internet oferecendo os seus desejados produtos. São os novos tempos!
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