CEM ANOS DO AMIGO DO PEITO
Ailton Salviano
Precisar a sua origem é complicado. Os historiadores advogam que ele era usado desde a Antiguidade e durante a Idade Média. Eram formas primitivas usadas à guisa de cilhas, vendas, braçadeiras ou coletes. Em termos funcionais, tinham os mesmos objetivos dos modelos modernos. Essas são algumas alusões ao inseparável amigo do peito – o porta-seios ou o tradicional sutiã.
Mas, por que cem anos? Bem, a data aqui considerada é aquela quando a peça apareceu pela primeira vez na capa da revista francesa “Vogue” em 1907. Porém, a primeira patente dessa famosa peça do vestuário feminino pertenceu à americana Mary Phelps Jacob. Em novembro de 1914, o Escritório de Patentes dos Estados Unidos emitiu a patente em favor dessa “socialite” americana, nascida em 1891 em New Rochelle, estado de Nova York.
Para quem gosta de mexericos, dizem que a americana produziu um sutiã ao descartar um espartilho que não se adequava ao seu novo vestido. Improvisou um “proto-sutiã” com dois lenços e alguns acessórios. Demonstrando naquela época, seu espírito capitalista, Polly, como era carinhosamente chamada pela família, vendeu a patente para a Warner Bros, que nas três décadas seguintes, faturou 30 milhões de dólares com o produto.
Nesses cem anos, após a sua primeira exibição na famosa revista francesa, essa peça experimentou inúmeras variações de função e de forma. Já se prestou a exibir ou aumentar seus usuários quando foi dotada de estruturas metálicas e forros; para ocultar ou diminuir, quando esteve excessivamente apertados. Em termos de forma, variou do excitante meia-taça com rendinhas de Brigitte Bardot nos anos 50, aos cones metálicos e perfurantes de Madonna nos anos 90.
Um velho amigo francês sorria continuamente, ao ver a exposição de diversos porta-seios numa feira livre de uma cidadezinha do interior da Bahia. Para ele, havia necessidade de um molde para confeccioná-los, como se procede com uma dentadura. As formas dos seus utentes são bem distintas e seria uma tortura, usá-los sem amoldá-los. Pensando bem, o velho francês tinha plena razão.
Nos anos 60, com a revolução sexual, muitas mulheres desafiando a implacável Lei da Gravidade, declararam guerra aos porta-seios. A queima da peça em praça pública, era uma ousada resposta ao que consideravam, símbolo da opressão masculina. Foi uma decisão de momento. O tempo passou e ele retornou mais forte que nunca. Hoje, se faz mais que necessário, com o exagerado uso dos enxertos de silicone.
Apesar de tudo, o velho corpete, corpinho, califom, porta-seios ou sutiã, é ainda uma peça complexa e polêmica. Protege e provoca. Seduz e conquista. Que me perdoem seus opositores, independente do grau de flacidez dos seus usuários, defendo o seu uso em qualquer idade. A silhueta feminina é muito mais autêntica quando protegida por essa segunda pele que transcende a anatomia e reconstrói com sensualidade.