Ailton Salviano (Publicado em O Jornal de Hoje – 21.10.2008)

Nos anos finais da década de 50 e início da década de 60, antes da revolução militar, era muito comum ouvir-se de estudantes que não concordavam com as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, a corruptela acima, título deste artigo. Era uma maneira indireta e jocosa de se dizer que o Brasil vivia a expensas do governo americano.

Essa adulteração da frase do Hino Nacional Brasileiro (Pátria amada, idolatrada…) seria mais intensamente repetida quando da criação do programa americano “Aliança para o Progresso” criado em 1961, pelo então presidente John Kennedy. Concebido logo após a Revolução Cubana de 1959, o programa americano teve objetivos econômicos e políticos.

O plano assinado por Kennedy em Punta Del Leste (Uruguai) previa injetar em 10 anos, 80 bilhões de dólares na América Latina, pouco mais de 10% do valor que agora os “states” disponibilizaram para amenizar a crise econômica. O programa contemplava ainda um aumento anual de 2,5% na renda per capita das nações, a extinção do analfabetismo, a eqüidade na distribuição de renda, o estabelecimento de governos democráticos e, acreditem, a reforma agrária.

A maioria desses objetivos não foi alcançada e o programa sofreu uma forte diminuição de ajuda no governo de Lindon Jonhson até ser extinto em 1967, na gestão de Richard Nixon. Por ironia, durante a década de 60, mais de uma dezena de países contemplados com o programa tiveram seus governos constitucionais substituídos por ditaduras militares.

Nos cinqüenta anos que se seguiram à criação e difusão daquela frase estudantil, muitas alterações se efetivaram nas áreas políticas e econômicas dos países. Novas moedas surgiram como o real e o euro. Países se uniram em blocos econômicos. Ditaduras foram derrubadas. Em 1991, houve a dissolução da União Soviética e seus países tornaram-se autônomos. Caiu o muro de Berlim. Surgiram os tigres asiáticos.

Não obstante todos esses acontecimentos, a recente crise econômica que surgiu nos Estados Unidos e, como um rastilho de pólvora, espalhou-se por diversas nações em todos os continentes provou que as economias ou os sistemas produtivos dessas nações estão intrinsecamente ligados a do Tio Sam. Infelizmente, não só a nossa Pátria Amada continua “in dólar” atada.

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