A ÉPOCA DOS JOSÉS E DAS MARIAS
Ailton Salviano
Por hábito, costumo olhar com atenção os crachás de identificação das pessoas. Isso acontece nos supermercados, nas lojas de departamentos, nos postos de gasolina, no comércio em geral e nas repartições públicas. Não sei se apenas a mim me estarrece, mas a onomástica (estudo dos nomes próprios), nunca na história desse país, teve um campo tão fecundo, capaz de desafiar os mais experientes dos seus cultores.
Não vai longe o tempo em que as famílias brasileiras seguiam costumes e normas simples para escolher os nomes dos seus descendentes. Os casais evangélicos, por exemplo, encontravam na Bíblia os antropônimos ideais para os filhos. Eram nomes como, Elias, Josué, Paulo, Jacó, Ezequiel e outros de fonte bíblica. Os católicos, por sua vez, adotavam nomes tirados dos calendários religiosos que continham o santo do dia.
Quem nascia em 24 de junho, chamava-se João. Os nascidos a 29 de setembro, Miguel. Aqueles que chegavam ao mundo em 19 de março, normalmente eram chamados José. No Natal, era Jesus, Natalino ou Noel; 8 de dezembro, Conceição; 6 de janeiro poderia ser Gaspar, Belchior ou Baltazar, uma alusão aos Reis Magos, e outros vários exemplos.
Algumas famílias reverenciavam os ancestrais e transferiam para os filhos, nomes de tios, avós, bisavós etc. Mas, nas últimas gerações, certamente na tentativa de inovar, alguém teve a brilhante (?) idéia de chamar o filho por um nome formado da união dos nomes dos pais. Aí então, começaram os absurdos e as aberrações nos nomes das pessoas.
São nomes estranhos como: Ambrosiana (junção dos nomes Ambrósio e Ana); Francrosa (união de Francisco com Rosa); Francinelson, Francimara, Francilda, Francelena, Francilina, Francijorge, Franciolga das associações de Francisco ou Francisca com Nelson, Mara, Ilda, Helena, Lina, Jorge e Olga. As junções ainda são responsáveis por Gracineide, Rizolene, Marifra, Jomária, Manudite, Claudiomário etc.
Os censurados cacófatos antigos como Adolfo Dias, Jacinto Filho, Jéssica Gomes tornar-se-iam triviais, diante de junções inusitadas de nomes como Carlos e Dália, Levi e Ana, Valter e Dione, Suetônio e Rúbia, Carlos e Anália, Jurema e Mentor, Regina e Ernesto, Sávio e Canará e outros.
Outras famílias buscaram nomes históricos ou tradicionais e deram nova e absurda grafia como, “Phellippe”, “Françuá”, “Voltté”, “Ruzevvelt”, “Cubichekki”, “Kellyy”, “Jhammes”, “Georggy”, “Thallitta”, “Frankky”, e outros desvarios. Neste caso, existe uma tendência incomum de grafias com letras dobradas e insistência nas letras k, y e w, como se essas letras representassem alguma forma moderna de nominar pessoas.
Na necessidade inexplicável de ser diferente, os absurdos onomásticos não ficam apenas nesses exemplos. Há, ainda, os casos de erros nos cartórios que fazem a pessoa levar uma incorreção para toda a vida. E, assim, surgem Jozé, Antonho, Cloves, Dijalma, Joarez, Istela, Cráudio, Deomar, Ozébio, Jetúlio e outros. Certamente, a época em que pelo nome do personagem, identificava-se a sua pátria é algo do passado.