Em julho de 1969, eu e um grupo de amigos saímos de Natal em um jipe guerreiro e um fusquinha para assistir à seleção brasileira que jogaria em Recife contra a seleção pernambucana. Naquela época, mesmo antes de ganhar o tricampeonato mundial, os jogadores brasileiros despertavam grande admiração, quase idolatria. Entre outros estavam naquele grupo, Pelé, Rivelino, Gerson, Tostão, Jairzinho. O sacrifício daquela viagem de 10 horas seria bem recompensado, tínhamos certeza.

Eram outros tempos. Os jogadores brasileiros que chegavam à seleção se comportavam com dedicação e orgulho de vestir a camisa amarela. A seleção era querida pelo povo, independente da situação política que o país vivia. Os brasileiros, como na música de Miguel Gustavo, formavam um contingente de 90 milhões de torcedores numa corrente positiva com e para a seleção. A nossa “canarinho” era a pátria de chuteiras, como dizia Nelson Rodrigues.

Algumas décadas depois, a magia e o orgulho que a seleção brasileira despertava deram lugar ao desprezo e ao desinteresse dos torcedores. A
explicação para essa resposta da torcida pode estar no comportamento e em algumas ações da entidade que dirige os destinos da nossa seleção. Primeiro, o mercantilismo começou a imperar nos bastidores da entidade. A seleção deixou de jogar no Brasil em troca de dólares advindos de jogos no exterior contra seleções medíocres.

A preferência por jogadores que atuam no exterior tornou-se prioridade. Os raros jogadores que atuam no Brasil quando convocados, havia por trás dessa convocação interesses escusos de mostrá-los para empresários internacionais. E nessa onda mercadológica, os jogadores também viajaram. Garotos egressos da periferia em um passe de mágica tornaram-se milionários jogando nos maiores times europeus. Sem a devida preparação para o sucesso repentino, encheram-se de soberba.

Para muitos atletas, jogar na seleção passou a ser fato secundário ou apenas um detalhe. Alguns até pedem dispensa. Para esses, jogar na seleção não leva a lugar algum. O torcedor brasileiro foi colocado para escanteio, para usar uma expressão comum no jargão futebolístico. Como se não bastasse assistir aos jogos apenas pela TV, o torcedor sequer tem o direito de escolher o canal porque existe um exclusivo que comprou a peso de ouro todos os direitos de transmissão e nos é empurrado de goela abaixo.

Todo este conjunto de ocorrências tornou o torcedor brasileiro arredio e sem muito interesse para com a seleção. Exatamente o contrário acontece em países como Uruguai e Argentina. A vitória do Uruguai na recente Copa América mostrou isso. A seleção celeste sem estrelismo, mas com garra e dedicação, despertou o interesse e o amor do seu torcedor. No dia da partida final, milhares de torcedores uruguaios invadiram as ruas de Buenos Aires.

A entidade que dirige a nossa seleção pode ser hoje uma das mais ricas do planeta, mas em compensação o nosso time está cada dia mais distante do torcedor. Outras modalidades de esportes têm despertado muito mais interesse. Infelizmente, o país do futebol não é mais unanimidade. Estão fazendo morrer a ginga, a magia, a malícia e a malemolência do futebol brasileiro.

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