A FORTALEZA DAS ALIANÇAS E A FRAQUEZA DOS PARTIDOS
Ailton Salviano – Publicado pelo O Jornal de Hoje em 15.05.2008
A palavra coligação que tem origem latina pode significar aliança, união, junção, mas, por extensão, quer dizer também, trama, conluio ou maquinação. Na acepção primitiva, pessoas ou organizações de objetivos que se assemelham são unidas em prol de um fim comum. No “strictu sensu”, partes manifestamente contrárias se juntam com o propósito de tirar vantagens restritas.
O Código Eleitoral (CE) no capítulo IV disciplina a Representação Proporcional. O Art. 105 contempla as coligações para os registros de candidatos a Deputado Federal, Deputado Estadual e Vereador. Porém, no que diz respeito ao registro de candidatos para eleições majoritárias – Presidente/Vice-Presidente, Governador/Vice-Governador e Prefeito/Vice-Prefeito – o CE refere-se uma única vez ao termo aliança de partidos.
As alianças partidárias no Brasil atingem níveis inimagináveis. À luz do velho chavão “unidos venceremos”, proliferam em vários Estados agrupamentos interesseiros, heterogêneos e espúrios que agregam velhos e ultrapassados caciques, cabeças de oligarquias, esquerdistas de plantão e filhotes da ditadura. Para dividir o poder, os políticos criaram uma autêntica babel ideológica.
Sob a égide de um esdrúxulo paradoxo – unir para dividir – ou seja, unir agora para dividir depois, adversários históricos subirão ao mesmo palanque. Com esta atitude, além de sepultar ideologias, negligenciam-se os objetivos, a autonomia e os programas partidários. Alianças absurdas ocorrem em quase todas as unidades da federação.
O que dizer dos ideais políticos dos partidos como instrumento de luta se ultimamente seus componentes trocam amiúde de partido por mera conveniência ou por interesses oportunistas? O que torna os partidos diferentes é o seu princípio ideológico que em última análise, é a sua marca registrada. Como exigir de um partido as suas propostas e metas se em cada Estado, ele se une aos mais diferentes credos políticos?
Em um país onde 60 milhões de eleitores não concluíram o nível fundamental de ensino, é praticamente impossível alterar esse “status quo”. Não raras vezes, uma simples esmola, mascarada por eufemismos, alimenta o sono profundo de uma nação que dorme em berço esplêndido enquanto os oportunistas tiram proveito dessa inércia ou preguiça popular.