DESAFIANDO A LEI DA GRAVIDADE
Ailton Salviano
Conheci há muitos anos, um técnico em Geologia que costumava me dizer um chavão bem interessante: “Político só cai para cima!” Meu saudoso amigo não queria com esta expressão afirmar que os políticos não obedeciam à Lei da Gravidade estabelecida pelo físico e matemático inglês Isaac Newton em 1683. Com esta frase absurda do ponto de vista da Física Newtoniana, ele se referia ao fato quando um político perde uma eleição, os seus correligionários, incontinenti, apresentam mil e uma soluções para o perdedor enfrentar um período sem mandato.
Acontece e não são raras as vezes, que o pretenso paliativo torna-se em termos financeiros e profissionais, bem superior às benesses do mandato. O fato é tão normal e ubíquo nas esferas políticas que se pode estabelecer até uma escala de valores. Por exemplo: um deputado federal ou estadual mal sucedido nas urnas pode normalmente, pleitear uma secretaria estadual; um senador ou prefeito de uma metrópole, após um insucesso eleitoral, pode encarar um ministério ou a presidência de uma grande estatal; um governador mau de urna, dependendo da importância do seu Estado, mesmo sob protestos do pessoal do Instituto Rio Branco, poderá ser guindado a uma embaixada.
Nesse desvario do troca-troca de favores acontecem muitas aberrações. Já trabalhei numa companhia estatal de pesquisa mineral que por injunções políticas, o superintendente era um dentista. Em âmbito federal, não faz muito tempo, tivemos que engolir um engenheiro civil como Ministro da Saúde, um advogado como titular do Ministério das Comunicações, um sociólogo ou um médico como Ministro da Fazenda e ainda um engenheiro civil inacreditavelmente, respondendo pelo Ministério da Justiça.
Mas, para ser chefe não precisa entender do assunto, basta ter uma boa assessoria! Esta é sempre a justificativa padrão e convincente dada pelos políticos em defesa dessas esquisitas indicações. Que podemos esperar de mudanças, de atualizações e de praticidade de uma pasta onde o titular tem formação totalmente adversa daquela requerida para o cargo? Se uma excelente assessoria puder suprir estas deficiências, qual o limite dessa dependência dos assessores? Dependência também pode gerar sujeição e subordinação. E a responsabilidade dos titulares?
Ultimamente, o que se tem visto é que nos deslizes morais e funcionais dos assessores, nem sempre os titulares são atingidos. Nesses casos, aqueles não são imunes à lei da gravitação universal e como todos os corpos físicos caem após se comportarem como pseudo anteparos às ondas de corrupção e prevaricação.
Será que por comportar todas essas incongruências, a arte da política tem concepções tão discrepantes? Para o filósofo, matemático e físico francês D’Alembert que viveu no século XVIII, “a arte da guerra é a de destruir os homens; a arte da política é a de enganá-los”. Em maio de 2006, na abertura da exposição do artista plástico Athos Bulcão, disse o presidente da Câmara de Deputados, João Paulo Cunha: “A arte da política às vezes, é ardil. Ela é mentirosa. Ela faz muito jogo. As pessoas tentam utilizar umas às outras… “ Naquele momento, o deputado vivia momentos de expectativa devido as dúvidas quanto à emenda que permitia a reeleição à presidência da Câmara. Indagado se as duras palavras refletiam alguma mágoa, o parlamentar não respondeu.
No outro extremo, o falecido líder político brasileiro Ulisses Guimarães tinha uma concepção mais amena. Para ele, a arte política consistia no conviver civilizadamente com o adversário; em vez do combate mortal, as concessões mútuas e os compromissos. Haja vista a sua imensa amplitude, a arte política torna-se complexa, abordá-la em termos definitivos. Poderia ser a arte do diálogo, do encontro, da conversação em que os atores visam a cooperação e a transformação da realidade em que vivem. Tudo sem ferir a ética e o bom senso!