Finalmente, o que é “Desenvolvimento Sustentável”?
Ailton Salviano
A expressão tem sido usada intensivamente pela mídia. Nos dias atuais, técnicos, políticos, jornalistas, comunicadores, ambientalistas utilizam-se com bastante freqüência da expressão – Desenvolvimento Sustentável. Mas, será que estão falando a mesma linguagem ou exprimindo o mesmo conceito?
Sem querer criar um problema semântico, a análise individual das duas palavras não apresenta uma boa resposta. Conceituar, por exemplo, desenvolvimento como, “transformações técnicas que aumentam a produção, geram riquezas e melhoram as condições sociais”, é quase um consenso. Entretanto, se recorrermos aos dicionários disponíveis na atualidade, encontraremos para o termo sustentar, derivado da expressão latina “sustentare”, sinônimos como conservar, manter, resistir, suportar, suster, etc., todos envolvem sempre atributo mecânico.
Para entendermos o termo sustentável, do ponto de vista sócio-ambiental como deve ser considerado neste artigo, faz-se necessário um breve histórico sobre alguns eventos promovidos por entidades internacionais envolvidas com as relações desenvolvimento/meio ambiente pelo menos, nos últimos trinta anos.
A rigor, as interações do ser humano com o meio ambiente remotam aos primórdios da civilização. A percepção dos impactos ambientais que afetavam a agricultura é anterior à Era Cristã. Após a 2ª Guerra Mundial, fatos como o grande crescimento da indústria e do consumo, os impactos dos testes nucleares, a crescente queima de combustíveis fósseis chamavam a atenção de alguns cientistas. São dessa época, ou seja, da segunda metade do século passado, as primeiras ações em defesa do meio ambiente. Em 1949, uma Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos Naturais não impôs compromissos, todavia, alertava para impactos nas florestas, nos animais e nas bacias hidrográficas.
Na década de 60, grandes desastres ecológicos, principalmente com combustível fóssil, levaram a comunidade internacional reiniciar as discussões mais racionais sobre a degradação do meio ambiente. Vários autores identificados com o problema ambiental, consideram a publicação em 1962 do livro Silent Spring de Rachel Carson, ambientalista americana, como um marco no Movimento Ambientalista Internacional.
Em 1968, a UNESCO patrocinou uma conferência sobre o uso e a conservação da Biosfera. Dez anos após a publicação do livro de Rachel Carson, a ONU realizou em Estocolmo (1972) uma Conferência Sobre o Meio Ambiente. À época, havia uma visão catastrófica sobre o futuro do planeta quando se abordava os Limites do Crescimento. Era a ressurreição das teorias pessimistas (Malthuismo) do economista britânico Thomas Malthus (1766-1834) que há dois séculos, alertava sobre os perigos da superpopulação e da falta de alimentos.
Em 1973, Maurice Strong, canadense de Manitoba e consultor das Nações Unidas, uma espécie de papa do meio ambiente, cuja obra lhe rendeu o título honoris causa de 41 universidades, usou pela primeira vez a expressão ecodesenvolvimento. Dentre os princípios defendidos por este neologismo, estava a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Havia ainda, uma fortíssima crítica à sociedade industrial. Para a grande maioria dos ambientalistas, foi a partir da discussão do tema ecodesenvolvimento que surgiu a expressão Desenvolvimento Sustentável.
Em 1974, é publicada a Declaração de Cocoyok, resultado da reunião da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento. Este documento associou a explosão demográfica à pobreza que por sua vez contribuía para a destruição dos recursos naturais. Os países ditos industrializados favoreciam esse quadro pelos altos índices de consumo.
No ano seguinte, 1975, a ONU por meio da Fundação Dag-Hammarskjöld, elabora outro relatório, uma espécie de complemento da Declaração de Cocoyok e corrobora as críticas às grandes potências. É provável que as duras críticas destes dois relatórios tenham gerado a rejeição dos governos dos países ditos industrializados.
Passaram-se doze anos, até que em 1987, a Comissão da ONU para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), na ocasião dirigida pela norueguesa Gro Harlem Brundtland e M. Khalid, apresentasse um novo documento que ficou conhecido posteriormente, como Relatório de Brundtland. Alguns ambientalistas garantem que o termo Desenvolvimento Sustentável foi empregado pela União Internacional para a Conservação da Natureza em 1980, porém, é no Relatório de Brundtland que aparece pela primeira vez, o seu conceito: “desenvolvimento sustentável é aquele desenvolvimento que satisfaz às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”.
Apesar da clareza deste conceito, o seu emprego generalizado muitas vezes, sem conhecimento de causa, tem gerado discrepâncias sobre o seu verdadeiro sentido, provavelmente pelos vastos temas que envolve: atividade econômica, meio ambiente e o bem estar da sociedade atual e futura. A idéia reflete equilíbrio entre tecnologia e ambiente, conciliando os paradigmas do desenvolvimento com a saúde do planeta a curto, médio e principalmente, longo prazo.
Na década de 80, na condição de professor, visitei com um grupo de alunos da então Escola Técnica Federal do Ceará, uma certa fábrica de cimento aqui do nordeste. O responsável técnico da empresa vangloriava-se quando da apresentação de alguns dados técnicos da fábrica. É que o óleo combustível havia sido substituído por lenha retirada da caatinga. Para o técnico, isto tinha sido uma “jogada de mestre”. Primeiro, porque havia encontrado um substitutivo de preço reduzido para um dos mais onerosos insumos na fabricação de cimento. Segundo, com a compra da lenha, havia criado dezenas de empregos indiretos. A solução paliativa e momentânea daquela fábrica é exemplo típico de um modelo de desenvolvimento que através de muitas gerações, tem provocado um enorme desequilíbrio ambiental. No caso em apreço, a caatinga era dizimada e o processo de desertificação do nosso combalido semi-árido se acentuava por uma atividade destrutiva. Evidentemente, este não é o modelo de desenvolvimento que os ambientalistas sonham em implantar, o tal – Desenvolvimento Sustentável!
Enjôlras de A. Medeiros Lima
Amigo Ailton,
Vou tirar uma cópia deste excelente artigo e distribui-lo com os participantes de uma palestra que darei no mes de fevereiro do próximo ano a alguns estudantes universitários.
Esta é uma maneira de de divulgar uma noção clara do desenvolvimento que não irá provocar sobdesenvolvimento futuro.
Abs. Enjôlras
Alan E. Wootton
Para mim, significa simplesmente um desenvolvimento que pode ser sustentado, ou seja mantida! Abraços – Alan