Ailton Salviano

Foi no tenso interregno das duas grandes guerras mundiais que os estudiosos da comunicação conceberam a chamada “Teoria Hipodérmica” ou “Teoria da Bala Mágica”. Ignorando a capacidade e o poder das diferenças individuais, os seus formuladores, em termos simplistas, consideravam que cada indivíduo era atingido diretamente pela mensagem.

Apesar do frágil embasamento dessa teoria, em considerar que a sociedade era composta por indivíduos isolados ou atomizados, facilmente manipuláveis pelos meios de comunicação, aparentemente seus propósitos alcançaram algum êxito, graças às peculiaridades daquele período.

Os governos da época pregavam a sua ideologia e os cidadãos eram bombardeados com temas patrióticos plenos de mentiras e distorções sensacionalistas. Daí dizer-se que era a teoria da propaganda. No pós-guerra, a tal teoria hipodérmica foi abandonada, tornou-se obsoleta, apesar disso, alguns dos seus princípios foram reutilizados na elaboração de novas teorias.

Estamos, pelo menos, seis décadas após o auge daquela hipótese especulativa, todavia algumas mensagens que leio diariamente no nosso quotidiano fazem-me retroagir e lembrar da velha e ultrapassada teoria. Quando leio a mensagem em um painel situado em posição de destaque numa moderna agência bancária: “Este banco possui um dispositivo eletrônico e o caixa-forte abre apenas nas horas programadas”, pergunto-me: a quem essa mensagem é dirigida?

Nas casas lotéricas, outra mensagem em realce: “os empregados dessa lotérica não têm acesso ao caixa-forte”. Nas estradas brasileiras, é muito comum encontrar-se um veículo de carga com os dizeres: “Este veículo é monitorado por satélite!”. Ou ainda, estampado em um tosco carro de transportar valores: “Este carro tem cofre blindado que só abre na empresa”.

O hábito, caracteristicamente brasileiro, chegou também às residências: “Esta casa tem segurança eletrônica 24 horas”. Alguém, diante da inversão de valores da sociedade atual, teve a idéia de divulgar sua autoproteção e certamente, como toda mensagem, para um destinatário.

Particularmente não tenho e, não acredito que algum cidadão de bem tenha, o menor interesse nessas mensagens. Que adianta saber se um veículo de carga é controlado ou não por satélite? Que importa o caixa-forte do banco abrir apenas em determinadas horas? E numa residência, é importante ter conhecimento da sua segurança eletrônica 24 horas?

Nos bancos, a mensagem tem muito mais destaque que os serviços que a agência oferece aos seus clientes. Nos veículos de carga, a mensagem obscurece o nome da empresa transportadora. As nobres residências repetem o hábito das casas humildes de escrever na fachada, como citado por Vinícius e Chico Buarque no clássico “Gente Humilde”.

Se a intenção ao divulgar essas mensagens é inibir a ação dos malfeitores, alguém, involuntariamente, aventura-se ressuscitar a velha Teoria Hipodérmica. Óbvio, que os seus pretensos receptores não acolherão passivamente essas mensagens. No mínimo, tornar-se-ão mais precavidos, quando da tentativa de serem atingidos pela ação da antiquada agulha.

  1. Acertado artigo, Ailton, muito embora no caso de cercas eletricas o bom senso recomenda a precaução de alertas, nos outros casos parece ser apenas para inibir os ladrões, ora, os ladrões decerto já sabem disso antes e vão melhor preparados. Abraço

  2. Ailton, Boa Tarde,
    A minha casa ter cerca elétrica e tem avisos espalhados pela cerca, e nos portões da casa, E você sabe muito bem porque!
    Agora os avisos são dirigidos a quem?
    Sómente a quem se interessa de pular os murros par cometer um assalto e roubo, certo? São mensagens para os ladrões!
    Confesso que não entendi muito bem o motivo do seu artigo, embora é verdade que se “tornar-se-ão mais precavidos” os malfeitores.
    Abraços
    Alan

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