Ailton Salviano – Publicado em O Jornal de Hoje (23.05.2009)

Para quem acompanha as notícias vindas da Corte não foi surpresa. Um estudo encomendado pelo deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), primeiro-secretário da Câmara, e concluído neste maio de 2009, apenas comprovou o que muita gente sabia: o deputado brasileiro custa mais caro para a nação comparando-os com os deputados de países do Primeiro Mundo. A diferença é absurda.

Este disparate é o resultado de benefícios acumulados durante muitos anos. Um reflexo, sem dúvida, da famigerada legislação em causa própria. Ou seja, na condição de representantes do povo, eles próprios estabelecem seus salários, suas vantagens, suas mordomias, e como um deles recentemente disse alto e bom tom: estou me lixando para a opinião pública.

No documento, segundo o jornal a Folha de São Paulo, um deputado brasileiro custa anualmente ao erário, R$ 1.274.000,00 (um milhão, duzentos e setenta e quatro mil reais) ou o equivalente a pouco mais de 2.700 salários mínimos. Compõem este valor, além dos salários, as verbas de representação inerentes ao exercício do mandato. Estarrece, se confrontarmos o custo dos nossos parlamentares com os seus colegas de países ditos desenvolvidos.

Para embasar as comparações seguintes, devemos considerar que a renda per capita do brasileiro está na faixa dos 4 a 5 mil dólares (IPEA) enquanto nos países desenvolvidos a mesma renda está em torno de 30 mil dólares. Na França, um deputado custa por ano aos cofres do país, convertendo para a nossa moeda, cerca de R$ 736.000,00. Aproximadamente, 58% do custo de um deputado brasileiro.

A comparação com os parlamentares italianos apresenta uma diferença ainda maior. Cada deputado da Itália custa anualmente 469 mil reais ou 37% do custo brasileiro. E a lista da pesquisa continua contemplando parlamentares de países como a Alemanha, Grã-Bretanha e Chile. Em todas essas nações, as despesas com parlamentares são bem inferiores às nossas. Apenas nos Estados Unidos, a maior economia do planeta, os deputados custam mais que os brasileiros.

Negligenciando a nossa renda per capita (baixíssima em relação aos países considerados) um item da pesquisa dividiu o custo total de um parlamentar para cada um dos brasileiros. Neste caso, fala mais alto o valor da população. Na condição de país populoso, o Brasil desce nesse ranking para os últimos lugares.

Em outras palavras, um cidadão inglês ganha em média 30 mil dólares ao ano (cerca de 61 mil reais) e desembolsa anualmente R$ 7,67 para pagar seus parlamentares. Enquanto isso, os 190 milhões de brazucas percebem em média, 10 mil e 500 reais anualmente (a sexta parte da renda dos britânicos) e desembolsa cada um R$ 3,29 (quase metade do inglês) para o custeio dos deputados.

Diante dessa situação, surgiu no nosso insigne e egrégio parlamento, uma promessa de cortes de custos. Obviamente, o bolso dos nossos parlamentares não será afetado (por conta daquela máxima de direito adquirido) e sobrará então para a estrutura da Câmara. A gordura que se pretende podar atingirá simplesmente 209 milhões de reais. É mais uma faceta da Democracia!