Publicado em O Jornal de Hoje

Na última semana de março de 2010, a mídia de todo o mundo explorou um evento científico realizado em um megalaboratório subterrâneo construído na fronteira franco-suíça. Refiro-me à simulação da suposta explosão que deu origem ao universo há mais de 13 bilhões de anos. O ensaio envolveu uma plêiade de cientistas que há alguns anos tentava estabelecer em escala reduzida, um choque de partículas subatômicas dotadas de energia recorde e dessa forma, estudar os seus efeitos.

O teste compreendeu uma série de conceitos avançados de física e cosmologia que dificulta os jornalistas traduzirem para linguagem leiga os detalhes e as consequências da experiência. São temas como “universo em expansão”, “galáxias”, “glúons”, “prótons”, quarks, “nanopartes”, “colisor”, “eletronvolts” e outros. Todos de difícil compreensão para a maioria das pessoas. Prova disso é que nos grandes jornais “on line” quase nenhum comentário de leitor foi inserido.

Na tentativa de ter informações mais palpáveis e compreensíveis, jornalistas brasileiros entrevistaram cientistas envolvidos com a experiência e alguns professores universitários que trabalham nessa área. A grande pergunta era: “que benefício esta experiência trará?” As respostas eram tão complexas que o leigo poderá concluir que na atualidade, nenhum benefício.

Dizer-se que de agora em diante, a humanidade conhecerá melhor o Universo e terá a resposta da pergunta “para aonde vamos?” pode parecer muito pouco para a experiência mais cara (10 bilhões de dólares) realizada até hoje pelos cientistas. Um dos construtores do acelerador, o cientista irlandês Steve Myers, indagado por um jornalista sobre o que representou o experimento para a ciência, afirmou: “Muito e nada! Muito, porque chegamos aonde nunca se chegou; nada, porque isso é apenas o começo”.

A experiência foi baseada em pensamentos de vários cientistas ao longo de mais ou menos um século. No início do século 20, o cientista neozelandês Ernest Rutheford ganhou o Nobel de Química por seus estudos de desintegração de elementos e química de substâncias radioativas. Depois vieram o monsenhor belga Georges Lemaître com a sua hipótese do átomo premeval (primitivo) e pai da teoria da explosão, o matemático e cosmologista soviético Alexander Friedmann, além de conceitos de Einstein, Hubble e Fred Hoyle a quem se credita o termo “Big Bang”.

Assim como os jornais e revistas de hoje, os livros de ciência do futuro hão de reservar algumas páginas para esse acontecimento. Pelo menos, isso é certo. Estudiosos do assunto dizem que alguns inventos envolvidos na experiência constituem enorme legado para a humanidade e aí estariam a evolução dos computadores pessoais e a própria internet. Algo mais ou menos semelhante ao que aconteceu com a corrida espacial na década de sessenta.

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