O ACIDENTE NO CHILE E A SEGURANÇA NA ATIVIDADE DE MINERAÇÃO
Publicado em O Jornal de Hoje (13.10.2010)
Quando o acidente da Mina San José no Chile chegou aos meios de comunicação, pelo “croquis” (esboço) das galerias logo percebi o que existe de comum na grande parte da atividade de mineração, principalmente nas minas antigas – o desprezo pela segurança. Trabalhei durante 20 e poucos anos em mineração de subsolo em várias empresas nacionais e multinacionais. Este período foi mais que suficiente para formar essa opinião.
Para me pronunciar sobre esse acidente no Chile, esperei para ver o meu ponto de vista confirmado. Não foi preciso muito tempo. O segundo operário resgatado confirmou o que eu pensara. No meio da mirabolante operação de resgate, foco de oportunismo de políticos e de sensacionalismo da imprensa, a vítima Mario Sepúlveda, referindo-se às condições de segurança da mineração no seu país, foi taxativo: “Este país tem que entender que é preciso fazer mudanças!”
Não é somente naquele país andino que a segurança na mineração é relegada a segundo plano! Embevecidos pela possibilidade de grandes lucros, médios e pequenos empresários da mineração não têm o menor interesse de seguir os padrões de segurança. No meu último trabalho em subsolo, na extinta Nuclebrás, fui execrado pela gerência porque denunciei a empresa contratada que por mais de uma vez não seguiu as normas de segurança na abertura das galerias de pesquisa.
No caso da mina chilena, aquele método (se se pode chamar assim) de lavra era demasiadamente perigoso pra não dizer suicida. É inadmissível trabalhar naquela profundidade apenas com uma via de acesso. O Chile é um país de atividade sísmica permanente. Todos os dias há abalos de intensidade diversa. As possibilidades de bloqueio do acesso às frentes de serviço são enormes. Fiquei e ainda estou torcendo para essa operação chegue ao final com sucesso.
Consulto a página do Serviço Geológico Americano (USGS) e vejo que no dia 11 de outubro houve um terremoto na localidade de Valparaíso (Chile) com magnitude de 4,9. No dia 12/10 (feriado aqui no Brasil) e dia do início do resgate, houve outro terremoto em Antofagasta (Chile) também de 4,9. Como não se pode prever terremotos, resta apenas rezar para que nenhum abalo afete a região da mina.
Todo o custo (que não foi pequeno) envolvido na operação de resgate poderia ter sido evitado se as normas de segurança tivessem sido observadas durante a abertura das galerias no que diz respeito ao formato, distribuição e geometria. Acredito que qualquer profissional que trabalhou em subsolo sinta-se envergonhado ao ver aquele estranho traçado de galerias como obra de engenharia de minas. Quando esta emoção passar, as autoridades chilenas, certamente, irão rever os seus padrões de segurança.