Ailton Salviano

O historiador e ensaísta satírico, escocês Thomas Carlyle (1795-1881), certa vez comentando do ponto de vista histórico e concordando com a atitude do imperador romano César Augusto (18 a.C.) que diminuiu o número de senadores de mais de mil para 600, disse: “uma assembléia com mais de mil membros pode fazer apenas uma coisa – destruir”.

Se vivesse no Brasil nos dias atuais, Carlyle certamente estaria estarrecido e comprovaria que o ato de destruição, inclusive do próprio senado, depende muito mais de ações corporativistas que do próprio número de senadores. Aqui eles são apenas 81 que pela Constituição (artigo 44) deveriam representar os Estados. Mas de forma egoísta alguns defendem cegamente seus interesses, atropelam os ditames democráticos e maculam a nossa Câmara Alta por onde passaram e estão tantos brasileiros ilustres.

Que pensam esses senhores?
Estarão acima do bem e do mal que sequer temem as punições do judiciário?
Será que não sabem que pela TV são vistos e escutados nas suas verborréias por milhões de brasileiros? Os seus bate-bocas mostrados em horário nobre beiram a discussão torpe e abjeta dos botequins.

Amparados por uma legislação política anacrônica, alguns envolvidos nos debates jamais receberam um voto sequer, um sufrágio apenas. Isto me conduz à triste lembrança – a excrescência do senador biônico de um passado recente. Aqueles que entraram pela janela da suplência, não raras vezes, são os mais eloqüentes e quando não encontram explicações para seus atos espúrios ainda arrotam: “É assim a democracia!”

Entristece-me, na condição de eleitor, assistir a algumas vozes de figuras notáveis do senado, que educada e heroicamente tentam ressuscitar a imagem da casa, serem abafadas e reprimidas por gritos quase histéricos, mais adequados aos ambientes de desavenças e rixas pessoais que aos parlamentos de discussões ideológicas onde são defendidos os interesses da sociedade.

O senado, nesses últimos cinco meses, deixou de ser a mais alta assembléia democrática da nação, local de discussão dos importantes temas das decisões políticas do país, para transformar-se num vergonhoso palco de teatro de bulevar onde são destaques, as ameaças e as chantagens pessoais.
Certamente, essa fração infecciosa do nosso senado age como se o país fosse feito apenas de analfabetos políticos de memória volátil que podem reconduzi-los ao cargo tantas vezes quantas eles desejarem.

A apologia à ignorância parece que fez escola em nosso país. Aqueles que deveriam ser o exemplo da ética, da dignidade e da honra estão fascinados pelas mordomias que lhes oferece o cargo e querem mantê-las a qualquer custo.
A pátria, envergonhada, lamenta.

  1. Arthur Tavares Cortês

    Este artigo demonstra como é agravante a noção que os políticos mal-caráter tem de nós: a de um povo que só deseja ver os resultados e não se interessam pelo processo.
    Quando eles roubam e bagunçam as custas do dinheiro do povo mas que fazem uma escola superfaturada aqui, um hospital com construtoras fantasmas alí, que mostra “seviço”, as pessoas se esquecem de toda a trama por trás. E os arrotos de demagogia (ri demais dessa paradinha!) é também um reflexo, pois por baixo dos panos, eles fazem o mesmo.
    A desesperança de um político honesto nos fez aceitar o menos corrupto.

  2. “Renan Calheiros deve ser afastado imediatamente da presidência do Senado”, diz Mercadante.
    Concordo com ele, e dou Graças a Deus, que não sou eleitor!
    O artigo é muito bom, porém não oferece uma solução!
    “Um pátria envergonhada tem que reagir!
    Abraços
    O Inglês da Prainha.

  3. É triste ver a nossa Democracia não dar certo. Aliais, alguma vez ela deu certo? Se não me engano, um dos momentos de maior desenvolvimento do país veio com um governo autoritário: Getúlio. Estaríamos então predestinados à governos auutoritários? Seria isso cultural? Não sei, mas do jeito que tá não pode ficar.

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