PROMISCUIDADE FEMININA
Ailton Salviano – Publicado em O Jornal de Hoje, Natal 07/02/2008
Uma colega de trabalho, católica fervorosa, quando comecei a lhe falar sobre a promiscuidade feminina entre os pássaros, antes que eu terminasse ou desenvolvesse qualquer raciocínio nesse sentido, me interrompeu bruscamente:
– Com gente, não dá certo!
– Um momento… não cheguei a qualquer conclusão.
Com se vê, é um tema, antes de tudo, polêmico que desperta de imediato, discussões. Há algum tempo, cientistas desenvolveram pesquisa nessa área e alguns paradigmas milenares foram quebrados. A bibliografia está repleta de exemplos de estudos. Há inclusive um livro lançado em novembro de 2000, “Prosmicuity” do biólogo inglês Tim Birkhead. Mas, fixemo-nos em dois casos – os pássaros e os grilos.
Semelhante à espécie humana, a maioria dos pássaros é monogâmica. Pelo menos enquanto dura uma geração de descendentes. Mas, recentemente, cientistas alemães do Centro de Pesquisa em Ornitologia revelaram que certas fêmeas de aves mantêm mais de um parceiro. A explicação dos cientistas fundamenta-se na evolução das espécies – a promiscuidade feminina pode gerar descendentes mais saudáveis.
A pesquisa foi realizada com uma variedade do canário azul (chapim) da Áustria. As fêmeas exercem papel ativo na reprodução. Os cientistas observaram que as fêmeas eram infiéis com os parceiros jovens. No caso dos machos mais velhos, não havia infidelidade e os descendentes dessa união apresentavam maiores probabilidades de sobrevivência e reprodução.
Segundo os cientistas, as fêmeas dos pássaros são mais férteis pela manhã e nessa hora, elas aproveitam a distração dos machos que se dedicam ao canto matinal para fugir do ninho e procurar outros parceiros. As fêmeas teriam algum mecanismo capaz de avaliar a qualidade do seu parceiro. A infidelidade nos pássaros atinge 90% dos casos. Nas honrosas exceções, destaca-se a fidelidade dos cisnes e dos albatrozes.
Entre os grilos, estudos comprovaram que o acasalamento das fêmeas com diversos parceiros evitavam o risco do par ser um parente próximo e assim viabilizavam descendentes mais fortes. Há também nesse caso, uma produção maior de ovos quando as fêmeas cruzam com mais de um parceiro. Isso é observado quando o cruzamento é realizado com parentes e estranhos ou somente estranhos.
Há provas da promiscuidade feminina em várias espécies animais. Segundo Birkhead, autor do livro, mesmo entre os mamíferos, a prática da fidelidade tem índices de 3 a 10% das espécies. As fêmeas dos chimpanzés, os grandes macacos antropóides africanos, antes de cada gravidez copulam mais de mil vezes com diferentes parceiros e caracterizam dessa forma, comportamento típico dos primatas.
Entre humanos, embora exista a palavra para designar esse comportamento – poliandria – por questões éticas e religiosas, está longe de ser observado. O que se prova é que alguns princípios da evolução das espécies mais uma vez atropelam paradigmas de comportamento da sociedade humana.
No caso aqui exposto, a decantada relação macho-fêmea que aparenta ser revestida de afagos, carinhos e meiguice, para esses cientistas inclusive o autor do livro, na realidade torna-se um violento conflito na busca da dominação. E, na maioria das vezes, o papel da fêmea é preponderante com implicações decisivas na evolução das espécies.
Alan E. Wootton
O meu papagaio, Princesa, diz “Esse é um assunto para passaros, e não para seres humanos, caia fora”!
Abraços
Alan