Ailton Salviano

Um estudo divulgado na última quinta-feira (24.02.11) pelo Ministério da Justiça e pelo Instituto Sangari transformou em números e parâmetros estatísticos o que se desconfiava teoricamente sobre a violência no país. É, sem nenhuma dúvida, o retrato de uma guerra não declarada que a população brasileira enfrenta há alguns anos com a complacência das autoridades e sem qualquer esperança de um armistício.

Os números da escalada de violência do período 1998-2008 são impactantes e refletem alguns paradoxos. É público e notório que até bem pouco tempo, dizia-se que a violência estava intimamente associada à miséria, à má distribuição de renda e a outros fatores sociais. Em contra-senso, o estudo demonstrou que no nordeste enquanto a pobreza diminuiu, a violência aumentou 65%.

Nesta matemática da morte, o número de homicídios no país por ano ultrapassou a barreira dos 50 mil. Isto dá mais de 4.100 mortes por mês ou 139 por dia, ou ainda, 7 homicídios por hora. É um verdadeiro absurdo! Nenhum motivo pode justificar um assassinato, porém a sociedade brasileira paulatinamente transforma-se numa aldeia de selvagens onde se mata por motivos fúteis e banais.

Em termos comparativos, nos países europeus os índices de assassinatos por grupo de 100 mil habitantes oscilam em torno de 5 (cinco). Aqui no Brasil, nenhum estado tem esse índice inferior a 10. A média nacional é de 26,4 óbitos por cada 100 mil habitantes. Desde o ano de 1998, esse número sempre foi superior a 26. Nesses valores estão incluídos os municípios interioranos o que reduz em muito a média.

Se considerarmos apenas as capitais, os valores são aterrorizantes. É difícil acreditar, mas das cinco capitais mais violentas do país, quatro estão no nordeste. Maceió é a campeã da violência com 107,1 mortes por grupo de 100 mil habitantes. Recife tem 85,2; Vitória (ES) com 83,9; Salvador com 60,1 e João Pessoa com 60. A nossa Natal (31,1) ocupa o 19º lugar e, pelos números, é mais violenta que Rio de Janeiro (30,0) ou São Paulo (14,8).

Em temos relativos e à luz fria dos números, hoje a probabilidade de ser assassinado em Natal é maior que no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Outra informação preocupante é a violência juvenil. A maior parte desses assassinatos envolve pessoas entre 15 e 24 anos. Considerando-se grupos de 100 mil habitantes nesta faixa etária, a média nacional sobe para 52,9, ou seja, o dobro da taxa quando se contempla todas as pessoas,

Infelizmente, é uma situação com futuro sombrio. Entre os deveres do Estado brasileiro, no trinômio saúde-segurança-educação, é difícil dizer-se qual está em pior situação. Enquanto isso, a nossa carga tributária é uma das maiores do mundo. Recolhemos para os cofres do governo, valores semelhantes a um cidadão europeu e recebemos quase nada de volta. Isto pode ser uma das muitas explicações que se tem para justificar esse status de selvageria.

(*) Os comentários podem ser encaminhados para: ailton@digi.com.br

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