Ailton Salviano – Publicado em O Jornal de Hoje em junho/2011

Nenhuma suspeita pode pairar sobre a idoneidade do órgão pesquisador. Trata-se da consultoria alemã GFK uma das maiores do mundo. Está presente em mais de 100 países nos cinco continentes com 70 anos de existência e há 22 no Brasil. Duas pesquisas realizadas em 2010 e em 2011 tiveram por objetivo determinar os índices de confiança em várias atividades e profissões no Brasil e em mais 14 países da Europa.

Os resultados apenas corroboraram o que o cidadão brasileiro havia percebido no seu cotidiano. Com 97% de credibilidade entre os brasileiros e 94% quando outros países são incluídos, os bombeiros estão no topo da tabela de confiança. Carteiros e médicos ocuparam respectivamente o segundo e terceiro lugares em ambas pesquisas. Professores do ensino médio e fundamental, o exército, as organizações de proteção ao meio ambiente e pesquisadores de mercado alternaram-se entre o quarto e sexto lugares.

Os jornalistas em 2010 ficaram em quinto lugar; em 2011 caíram para o sétimo. Outras atividades contempladas na pesquisa foram os publicitários, os juízes, as instituições de caridade, os advogados, os diretores de grandes empresas e os funcionários públicos. Nos quatro últimos lugares ficaram os policiais, os sindicatos, os executivos e no final da tabela, os políticos.

Analisando-se esses resultados, a situação dos bombeiros no topo da tabela foi devidamente comprovada com os últimos episódios que envolveram esses profissionais no Rio de Janeiro. Apesar do ato desesperador de indisciplina na invasão do quartel, a classe teve apoio de grande parte da sociedade carioca e a prova disso está no número de pessoas que aderiram às passeatas e às bandeiras vermelhas que tremularam nas janelas de diversos edifícios residenciais.

E o que dizer dos políticos que são a classe menos confiável? O estigma não é só brasileiro; está presente em índices semelhantes nos 10 países europeus pesquisados. Aqui, a sequência de escândalos políticos sem qualquer punição para a maioria envolvida favorece esse status quo. Desvio de verbas públicas, obras superfaturadas, dólares na cueca, compra de votos, recebimento de propinas e mais uma série interminável de atos ímprobos fazem dos políticos uma classe sem confiança.

Enquanto 97% dos brasileiros confiam nos bombeiros, apenas 19% têm confiança nos políticos. Provavelmente, esses 19% são provenientes mais de pessoas beneficiadas pelos cabides de emprego que das atitudes sérias da política. Apesar da larga desconfiança pública na classe política, muitos políticos de comportamento suspeito são inexplicavelmente reconduzidos aos seus cargos eletivos. Aqueles que não conseguem ser reeleitos são agraciados com cargos no alto escalão em um flagrante desrespeito à consciência popular.

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