MARANHÃO – A INCOMPARÁVEL CAPACIDADE DE PRODUZIR ESCRITORES

Ailton Salviano

Quando criança, costumava perguntar aos meus professores de Português: onde se fala mais corretamente no Brasil? Invariavelmente, a resposta era: No Estado do Maranhão! À época, não havia qualquer estudo ou pesquisa nesse sentido que pudesse fundamentar essa uníssona resposta. Seria um reflexo da incomparável capacidade que o Maranhão possui de produzir grandes escritores?

Há alguns dias, em conversa com o meu guru, Pai Ambrósio, maranhense de Curralinho, atual Coelho Neto, falei da minha admiração pela terra que produziu incontáveis vultos da nossa literatura. De cor, comecei a citar alguns nomes de escritores e eram tantos que resolvi aprofundar a minha pesquisa. Aliás, pesquisa sobre literatos é um tema não muito convidativo para a maioria das pessoas. Mesmo assim, valeu a pena!

O século 19 foi prolífico para o Maranhão no que diz respeito ao surgimento de renomados escritores. No crepúsculo daquela centúria (1897) quando se fundou a Academia Brasileira de Letras (ABL), havia no Estado Timbira mais de uma dezena de escritores de talento com uma profícua produção literária, além de outras expressões intelectuais locais, o que valeu à capital maranhense o cognome de “Atenas Brasileira”.

Naquela época, a influência de escritores maranhenses no cultivo da língua e literatura nacional era tamanha que cinco deles foram espontaneamente escolhidos para patronos por fundadores (não maranhenses) da ABL: Adelino Fontoura (cadeira 1, escolha de Luiz Murat-RJ), Gonçalves Dias (cadeira 15, escolha de Olavo Bilac-RJ), João Francisco Lisboa (cadeira 18, escolhido por José Veríssimo-PA), Joaquim Serra (cadeira 21, escolha de José do Patrocínio-RJ) e Teófilo Dias (cadeira 36, escolha de Afonso Celso-MG).

Além desses patronos, são nascidos no Maranhão quatro fundadores da ABL: Coelho Neto (fundador da Cadeira 2), Aluísio Azevedo (fundador da Cadeira 4), Bernardo Correia (fundador da Cadeira 5) e Arthur Azevedo (fundador da Cadeira 29). Passaram também pela Academia os imortais maranhenses: Odylo Costa (Cadeira 15), Humberto de Campos (Cadeira 20), José Montello (Cadeira 29), Viriato Correia (Cadeira 32) e Graça Aranha (cadeira 38). O atual ocupante da cadeira 38 é o maranhense José Sarney.

Alguns fatos marcantes associados às letras envolveram nomes de autores maranhenses. São exemplos, os ludovicenses Francisco Sotero dos Reis, autor da primeira gramática da língua portuguesa no Brasil e Manoel Odorico Mendes, humanista, responsável pelas primeiras traduções integrais para o Português, das obras clássicas de Virgílio e Homero.

Mesmo sem pertencerem à Academia, outros escritores maranhenses se destacaram: João Duarte Lisboa Serra (“Subindo pelo Volga”, “No Cemitério dos Cristãos”), Trajano Galvão (“Três Liras”, “Sertanejas”), Joaquim de Souza Andrade, conhecido por Sousândrade (“Harpas Selvagens, “Guesa Errante”), Maria Firmina dos Reis (“Úrsula”, “Cantos a Beira Mara”), Antônio Henriques Leal (“Pantheon Maranhense”, “História dos Jesuítas no Brasil”), Gomes de Souza, Almeida Braga, Franco de Sá, Marques Rodrigues, Dias Carneiro, César Marques, Belarmino de Matos e outros.

A prodigalidade maranhense nas letras não tem apenas caráter quantitativo. A qualidade das produções literárias teve repercussão além fronteiras. Para alguns pesquisadores, “O Grupo Maranhense”, expressão cunhada por José Veríssimo, crítico e historiador literário, fundador da ABL, produziu de forma assistemática sem grandes intenções; para outros, o grupo tinha consciência do papel da literatura e ensejou uma identidade literária e cultural nacional em pleno Brasil oitocentista.

  1. Carlos Gomes de Souza

    Caro Ailton.
    Morei alguns anos na capital ludovicense e na explosiva cidade de Imperatriz. O que mais me impressionou nas minhas primeiras incursões no linguajar sãoluisense foi o seu inigualável sotaque. A musical dicção do negro maranhense e o timbre bem diferenciado da sua voz.Idos de 70. Hoje é uma cidade cosmopolita e a influência de “estrangeiros” vai interferindo nesta cultura tão peculiar do povo maranhense.
    Parabenizo-o pela sua pesquisa. E como sugestão você poderia pesquisar o mundo musical maranhense. Rico e com expressões bem próprias e peculiares. O bumba meu boi, o soar da matraca e tantas outras riquezas.
    Parabéns.

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