AMBIÇÃO, COBIÇA E INVEJA
Sempre que encontro João Lucena, velho colega do Atheneu nos anos 1950, comentamos e discutimos temas diversos. Alguns, curiosos, que muitas vezes, envolvem o comportamento humano e suas idiossincrasias. Na nossa faixa etária, no limiar das sete décadas, a nossa percepção para essas coisas parece mais aguçada, talvez para compensar a dificuldade de memorização de fatos recentes.
No nosso último fortuito encontro, veio à baila o comportamento de certas pessoas (pode ser parente) quando percebem que alguém melhorou de vida. Algumas passam a ver tal pessoa com desconfiança. Outras acham que se tornou orgulhosa. Nos casos extremos, cortam relação com essa pessoa. Lucena contou-me o curioso caso de um seu conterrâneo que começou a ser execrado porque construiu um primeiro andar na sua casa.
Está podre de rico! Diziam alguns. Só quer ser o que não pode, falavam outros. Está metido à besta, censuravam. Para os mais próximos, diz Lucena que até procurou contemporizar: “pessoal, fazer um primeiro andar é algo insignificante. O custo é mínimo”. Mas, a ninguém convenceu. A pecha estava concretizada. O fulano do primeiro andar estava definitivamente queimado.
Esse estranho comportamento humano está associado a que tipo de sentimento? A neurociência tem realizado grandes descobertas na área das emoções. A química dos sentimentos tem levado os cientistas dessa área reconhecerem os fundamentos das nossas decisões movidas pela razão. No caso descrito por Lucena, até onde chegam os meus parcos conhecimentos, estão envolvidos algum desses sentimentos negativos: a ambição, a cobiça ou a inveja.
Embora esses sentimentos sejam semelhantes, os estudiosos fazem algumas sutis diferenças para caracteriza-los. Vejamos o caso do conterrâneo de Lucena que adquiriu uma casa. O indivíduo dotado de ambição, deseja ter uma casa igual. O indivíduo que tem cobiça quer a casa para ele. O invejoso é o mais danoso de todos: deseja simplesmente que o indivíduo perca a casa embora ele nada usufrua disso.
Segundo os neurocientistas, todos esses sentimentos negativos estão associados a uma parte do cérebro denominada estriado ventral. O mapeamento do cérebro humano feito por neuroimagens revelou essa área que também é ativada quando se joga contra alguém e o sentimento de comparação é despertado. A alegria ou satisfação de vencer ou ganhar também é extensiva a derrocada do semelhante.
Eis, meu nobre Lucena, um resumo do que li sobre esses sentimentos mesquinhos. Infelizmente, no nosso círculo de amizade, há alguns deles. E para manter essas amizades, reza a sabedoria, temos que aturar os defeitos dos ambiciosos, cobiçadores e invejosos. “C’est la vie”