Eles estão por toda parte. Há alguns dias, sentado à mesa de um restaurante, contei silenciosamente os presentes por simples curiosidade. Dos cinquenta comensais daquele momento, eles eram quarenta, ou seja, 80% dos clientes. De repente, na história da humanidade, eles começam a se destacar e constituir uma parte apreciável da população formando em alguns países, uma geração problema. Estou me referindo às pessoas obesas e ao aumento excessivo do seu universo nos últimos anos.
Ao obsevar um documentário filmado nos anos 1930 em grandes cidades brasileiras, nas tomadas dos transeuntes, percebi que os gordinhos eram uma minoria ou quase ausentes. A conotação aqui é aplicada para aquelas pessoas que estão acima do peso dito normal e que se pode determinar à vista desarmada, sem a necessidade de recorrer-se às tabelas de estética que envolvem idade, altura e peso.

Afinal de contas, todos nós a um simples olhar, sabemos quando uma pessoa está bem acima do chamado peso normal. Excluem-se aqui, os casos de obesidade mórbida, considerada hoje, uma doença crônica que provoca outros tipos de enfermidades que levam à morte precoce. Atrelado ao crescimento do universo dos gordos surgiu nos últimos tempos, um verdadeiro arsenal para combater a indesejável adiposidade. Academias de ginásticas com modernos e sofisticados métodos, alimentação macrobiótica, adoçantes, refrigerantes e alimentos “lights”, produtos dietéticos e integrais até o extremo apelo à redução do estômago.
Embora países ditos desenvolvidos já se preocupem com a crescente população dos gordos, no nosso mundo tupiniquim, com toda razão, a fome ainda tem prioridade. Pode parecer um paradoxo, mas tanto a fome quanto a farta, porém má alimentação trazem desastrosas consequências. Se a fome leva à inanição, a gordura excessiva desencadeia uma série interminável de doenças cardiovasculares.

Claro que uma campanha com o pomposo título de Fome Zero tem muito mais impacto social e gera bem mais dividendos políticos que envidar esforços para orientar o povo para uma boa alimentação. Hoje, se a fome atinge 40 milhões, a ameaçadora gordura está presente em pelo menos 10 milhões de brasileiros. Pesquisas da Organização Pan-Americana da Saúde revelam que existiam no Brasil, 6,7 milhões de obesos na faixa etária de 6 a 18 anos em 1997 e que a obesidade infanto-juvenil cresceu 240% nos últimos 20 anos. Nesse mesmo período, a taxa dos homens gordos, em relação à população total, passou de 3% para 7% e das mulheres de 8% para 13%.

O que aconteceu nas últimas décadas para justificar o fenômeno da obesidade? Teria sido a mudança brusca no hábito de se alimentar, facilitada pela proliferação dos refrigerantes e dos sanduíches dos “fast-foods”? Ou foi o sedentarismo a que se adequou o homem moderno, consequência direta do ato frequente de ficar horas e horas diante da televisão e mais recentemente diante do microcomputador, não dando a menor importância aos exercícios físicos? Estaremos vivendo o “Jurássico” do Homo sapiens?

O homem com os seus hábitos e idiossincrasias sempre foi e continua sendo um animal deveras complexo. Defini-lo ou entendê-lo tornou-se um desafio para filósofos e pensadores, desde o homem político de Aristóteles (384-322 a.C.), passando pelo que pensa de René Descartes (1596-1650), ao que julga de Immanuel Kant (1724-1804), ao que trabalha de Karl Marx (1818-1883) e ao que cria de Henri Bergson (1859-1941). Foram definições interessantes, porém muito restritas no tempo e no espaço.
Nas condições atuais, o animal homem ajusta-se perfeitamente aos personagens Gargântua e Pantagruel, do humanista francês François Rabelais, não pelos risos que provocavam, mas pelo apetite e gula que respondiam pelas suas gigantescas dimensões físicas, fruto da abundância de cereais e dos faustos banquetes de tripa e vinho.

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