Ailton Salviano

Durante oito anos meu pai trabalhou na “Standard Oil of Brazil”. Tempos depois, é que descobri que o acrônimo inglês “ESSO” é formado exatamente pelas iniciais “S” e “O” do nome daquela companhia. Daí para a descoberta que “TEXACO” é também acrônimo de “Texas Company”, foi simples analogia.

Estas minhas “grandes” descobertas foram feitas durante o antigo curso ginasial nos anos 50. Naquela época, os Estados Unidos usavam e abusavam de siglas e acrônimos (FBI, SOS, PhD, MSc, DNA, AM, PM, VHF, UHF, WHO, USAID). Seria algum sinal de evolução na língua, na comunicação, na indústria, no comércio?

O certo é que naquela época, aqui no universo tupiniquim, este costume de reunir as letras iniciais de uma denominação ou título formando uma nova palavra com ou sem articulação prosódica, apesar da aquiescência das normas lingüísticas, com exceção de alguns setores como as Forças Armadas e os Partidos Políticos, era muito pouco usado.

Mas, meio século depois daquelas descobertas juvenis, o nosso convívio está prenhe de abreviaturas, siglas e acrônimos. A ubiqüidade do fenômeno é tão grande que é comum até no judiciário, habitat natural da pureza de linguagem e das clássicas expressões latinas, verbo et gratia, ADIN para “Ação Direta de Inconstitucionalidade”. Isto pode resultar em expressões como: “STF julga a ADIN/1581 e declara constitucional o convênio ICMS”.

Apesar do uso de siglas e acrônimos ter se tornado mais freqüente e se popularizado durante o século XX, há um notório exemplo histórico. Diz-se que em Roma, os cristãos por conta de um acrônimo, usavam um peixe para designar Jesus. A explicação é que a palavra grega para peixe é “Ichthus” que seria o acrônimo de “Iesus CHristus THeou Uios Soter” ou “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”.

Com o advento da Internet, o costume de abreviar palavras para facilitar a transmissão e ganhar tempo, tornou-se banal e de intenso uso. Nestes novos tempos, já tivemos até um presidente da república conhecido pela sigla formada pelas iniciais do seu nome.

Alguns acrônimos são tão freqüentes que fizeram esquecer a denominação principal que representa. O uso ostensivo pela mídia nacional já banalizou acrônimos como AIDS (SIDA na maioria dos países latinos), ONU, PIS, PASEP, SUDENE, TELEMAR, FIERN, COSERN, CAERN, ANVISA, ABIN, SUS, DETRAN, INCRA e siglas como FGTS, INSS, INPS, IBGE, STF, TCE, LBA, TCU, TRT, ABNT, ICMS e outros.

O largo uso dessas contrações já comporta até glossários e dicionários, exclusivamente para decifrá-las e pode também constar de questões em concursos públicos e vestibulares. No jargão da Informática, seus usuários já se familiarizaram com expressões tipo WWW, FTP, FAQ, HTTP, PDF, IP etc. No jornalismo, para contrair extensas manchetes, têm uso freqüente.

O perfeito entendimento de algumas notícias exige do leitor, vasto domínio de siglas e uma atualização constante, pois aumentam diariamente. Veja alguns exemplos: “PFL pede CPI”. “TRF solta líderes do MST”. “INSS dá reajuste abaixo do INPC”. “PT destaca acordo com o FMI na TV”. “Após julgamento de duas ADIs, STF quebra sigilo fiscal do presidente do BC”.

No nosso quotidiano, quantos profissionais na indústria, na engenharia e na medicina fazem uso dos raios “laser” nas suas atividades e jamais desconfiaram que a palavra “laser” é um acrônimo inglês de “Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation”.

Antes de imprimir este texto, percebo o “LED” da impressora piscando numa mensagem cifrada de falta de papel. Aliás, por coincidência, “LED” ou aquele minúsculo sinal luminoso no aparelho de som, no telefone sem fios, no painel do automóvel, também é um acrônimo de “Light Emitting Diode”.

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