AS EMINÊNCIAS PARDAS DO PODER
Por Ailton Salviano
Desde priscas eras existem personagens obscuras que oficialmente não aparecem, porém exercem uma fortíssima influência nas decisões dos governantes. Aquele que responde pelo poder não dá nenhum passo sem consultá-lo. O domínio, em determinadas circunstâncias, é tamanho que o governante pode ser substituído ou deposto quando não segue rigorosamente as orientações. Essa figura dominante é a eminência parda do poder.
Na era medieval dizia-se que ele ficava atrás do trono de onde emanava todo o seu despotismo. A expressão eminência parda (do francês “éminence grise”) originou-se na França do século 17 quando o frei capuchinho, François Lecrerc du Temblay (1577-1638) tornou-se uma espécie de “braço direito” do Cardeal Richelieu (1585-1642), primeiro-ministro do rei Luís XIII (1601-1643). O nome deriva provavelmente da vestimenta parda que o frei Lecrerc usava.
Ao longo da história, essa espécie de assessor, mesmo operando secretamente, tornou-se famosa com os seus “conselhos” nem sempre oficiais. A inexperiência e a insegurança do chefe favorecem a sua presença. A história está repleta de exemplos de eminências pardas. Aliás, o termo tornou-se mais consistente e usual, após a publicação da biografia de Lecrerc, elaborada pelo escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963) e publicada em 1941.
A história do Chile cita a figura polêmica de Diego Portales (1793-1837), ministro de Estado de alguns presidentes e que durante sete anos (1829-1836) foi uma espécie de eminência parda, líder e mentor intelectual desses governos. Na França, o rei Luís XVI (1754-1793) teve na figura do Conde de Maurepas (1701-1781) o seu assessor que segundo o historiador Bernard Vincent, se autodenominava “um simples mentor, um útil confidente, uma eminência parda tão apagada quanto solícita”.
No Japão, o general Hideki Tojo (1884-1948), tornou-se primeiro-ministro em 1941. Era subalterno ao Imperador Hirohito (1901-1989) que aprovou todas as suas decisões, principalmente militares. Até os Estados Unidos tiveram a sua eminência parda em um caso “sui-generis”. Trata-se da segunda esposa do presidente Woodrow Wilson (1856-1924), a primeira dama Edith Wilson (1872-1961). De tanto influenciar nas decisões políticas do marido chegou a ser chamada Senhora Presidente.
No Brasil, a revolução militar de 1964 teve o seu mentor teórico – o general Golbery do Couto e Silva (1911-1987). Formado pela Escola de Estado-Maior do Exército, Golbery foi estagiário da famosa Escola Militar Americana “Fort Leavenworth War School”. É apontado como o idealizador do movimento político-militar de 1964. Exerceu enorme influência principalmente durante o governo Castelo Branco (1900-1967).
Voltou no governo Geisel (1908-1996) para ser chefe da Casa Civil. Golbery não foi apenas o mentor da revolução, para o jornalista Elio Gaspari, amigo e herdeiro do seu arquivo pessoal, o general juntamente com o presidente Geisel conseguiram também “desmontar a ditadura”. Golbery, apesar de não desejar a democracia, tinha idéias que não se coadunavam com a linha dura de alguns militares. Exonerou-se em 1981.
As próximas intervenções dessa infausta figura devem vir em futuro próximo de Cuba e Moscou. O novo presidente cubano Raúl Castro afirmou com toda convicção que não hesitará de consultar o irmão em assuntos políticos delicados. O velho ditador renunciou ao cargo, porém vai continuar com as atribuições típicas de uma eminência parda do poder. De modo semelhante, em Moscou, o novo presidente eleito Dmitri Medvedev diz que seguirá “a trilha de Putin”. Em ambos os casos, os caudilhos saem de cena, mas seguem dando as cartas.
E no Brasil do século XXI, há alguma eminência parda? Deixo o exercício de memória para o caro leitor.
Alan E. Wootton
E no Brasil do século XXI, há alguma eminência parda?
ZÉ DIRCEU … VEJA: http://www.zedirceu.com.br/
Certo ou errado?
Abraços
Alan