Ailton Salviano

Quando se cunhou a expressão “vox populi, vox Dei” no final da Idade Média, embora não existissem estudos sistemáticos sobre o tema, implicitamente estava-se referindo ao assentimento popular ou à opinião pública. Muitos pensadores, principalmente contemporâneos da Revolução Francesa, criaram inúmeras expressões enaltecendo a vontade popular.

Atribui-se ao suíço (muitos pensam ser ele francês) Jean-Jacques Rousseau, o primeiro a utilizar-se da expressão “opinião pública”. O famoso autor de “Do Contrato Social”, com muita propriedade, emitiu valiosas teorias e os seus escritos inspiraram muitos revolucionários.

Para Rousseau, nem mesmo o governo dos déspotas independe daqueles que são governados pelo preconceito. Associando opinião e Direito, disse com outras palavras, que para se legislar para um povo, deve-se também saber manejar as opiniões.

Nos séculos subseqüentes ao de Rousseau, muito se escreveu sobre opinião pública. Se primordialmente era tema para os estudiosos do direito, da sociologia ou da psicologia, nos tempos modernos, o leque de disciplinas se expandiu e a multiplicidade de fatores que influenciam na formação da opinião pública passou a ser objeto de estudo de jornalistas, estatísticos, cientistas políticos, publicitários etc.

Pensadores modernos advogam que nas circunstâncias sócio-políticas atuais, a opinião pública não mais existe e não poderá mais existir. Entre os defensores dessa proposta, está o sociólogo francês Pierre Bourdier para quem na opinião pública, as questões levantadas sejam do interesse de todos, e que todos tenham capacidade de responder e que as opiniões tenham mesmo peso.

Para o jornalista e professor da PUC, Roberto Amaral, opinião pública e representação são incompatíveis. Para Amaral, uma opinião pública autônoma, munida de meios de comunicação de massas livres, isentos, plurideológicos e não unilaterais são condições indispensáveis para uma democracia representativa.

O que temos é uma sociedade manipulada onde os meios de comunicação geralmente defendem interesses particulares. A informação normalmente construída por esses meios é mais do interesse do pesquisador que propriamente do público.

Há alguns meses, um determinado veículo de comunicação de São Paulo durante vários dias emitiu a sua opinião sobre o voto aberto no Congresso Nacional. Construiu e divulgou amplamente a questão e o seu posicionamento embasado por seus pontos de vista. No final da semana, realizou uma “pesquisa” de opinião pública sobre o tema.

O que existe nessas propaladas pesquisas é um fortíssimo estímulo para determinadas respostas. Os veículos de comunicação não informam, porém dão opinião, não reportam os fatos, mas interferem e tornam-se o próprio fato. Há um certo consenso entre os estudiosos que as questões devam ser emanadas do público, em situações públicas e também de interesse público. É também o pensamento que vem desde o iluminismo.

Nas condições atuais, o que temos são questão criadas pelos meios de comunicação ou classes dominantes que de tão insistentemente veiculadas tornam-se públicas. Por outro lado, para serem formuladas questões de interesse público, os cidadãos devem ter acesso à informação não manipulada e serem capazes de entender o que estão lhes perguntando.

Numa sociedade cada vez mais excluída, política e socialmente, a opinião pública apenas afere o que lhe foi estimulado pelas classes dominantes. É um procedimento semelhante ao que foi dado ao cão de Ivã Pavlov.

  1. “…public opinion deserves to be respected as well as despised” G.W.F. Hegel, ‘Philosophy of Right’

    “… A opinião pública merece ser respeitada, com também desprezada”

    Concordam?

    Alan

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