Nos anos 1950, na condição de estudante de ginásio do Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense éramos exigidos decorar certas definições em quase todas as disciplinas. Lembro-me bem que em Geografia Geral, além de estudar as feições geográficas, dados populacionais e aspectos astronômicos, havia informações sobre a meteorologia, aí incluídos índices pluviométricos de vários municípios.
O inesquecível professor Vicente de Almeida repetia didática e pacientemente, o conceito de clima contido no livro de Aroldo de Azevedo. Dizia o saudoso mestre, “clima é o conjunto de fenômenos meteorológicos que caracteriza o estado médio da atmosfera em um determinado lugar”. Naquela época, a atenção que se despertava pela meteorologia aqui no nordeste limitava-se a saber se o ano era chuvoso ou de seca.
As informações científicas sobre chuvas eram escassas e imprecisas. Havia um crédito maior nas adivinhações dos profetas sertanejos, principalmente entre as pessoas mais velhas. Mas, na última metade de século XX, com o advento das imagens obtidas por satélites artificiais, a meteorologia alicerçou-se cientificamente e hoje desempenha um papel importante e indispensável como fator de prevenção no nosso quotidiano.
A antecipação de informações meteorológicas porém, ainda não consegue ser assimilada pelas autoridades competentes como fator preventivo. A prova está nos últimos desastres na região serrana do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e em Itaóca (SP). De antemão, as autoridades e muitas pessoas sabiam que intensas precipitações de duração imprevisível estavam na iminência de acontecer. Infelizmente não houve a mínima iniciativa para retirar a tempo, as pessoas das áreas de risco.
As oscilações climáticas ao longo da história têm influenciado e muito as atividades humanas sejam sociais ou políticas. Desde a narrativa bíblica nos capítulos 6 e 9 do livro Gênesis no Velho Testamento até os dias atuais, fenômenos climáticos foram importantes no desdobramento de alguns fatos. Pesquisadores da Universidade Harvard (Estados Unidos) e algumas instituições de pesquisa da Europa têm demonstrado que o clima exerceu papel preponderante na expansão do Império Romano.
Segundo esses estudiosos, durante os dois primeiros séculos da Era Cristã, o clima era quente e chuvoso. Este aspecto climático, favoreceu o desenvolvimento da agricultura e assim, a alimentação de grandes exércitos e ainda o desenvolvimento da economia que criava um ambiente de satisfação entre os romanos. Nesta época de pujança, o império expandiu-se até a Inglaterra. Porém, na metade do século III, houve uma drástica mudança climática. O clima passou a ser frio e mais seco. Foi o início de uma crise econômica que ocasionou a decadência do império, graças também a outros fatores, como a políticas monetárias erradas e o surgimento da inflação.
Nos tempos modernos, mais precisamente em 1941, na maior campanha militar da história – mobilização de 4 milhões e soldados, 600 mil veículos e 750 mil cavalos – conhecida por Operação Barbarossa, as nações do Eixo pretendiam invadir a parte oeste (europeia) da União Soviética. Os objetivos nazistas não foram alcançados principalmente por uma guinada nas condições climáticas. Os soldados alemães não estavam preparados para enfrentar temperaturas inferiores a 10 graus Celsius negativos.
O rigoroso inverno russo afetou não somente os soldados alemães (250 mil morreram), mas também os soviéticos. Com o intenso frio, muitas viaturas não funcionaram. Tal como acontecera 130 anos na tentativa de invasão do francês Napoleão Bonaparte, o inverno impôs suas regras. Isto foi decisivo para a própria guerra e o curso da História. As civilizações por mais desenvolvidas que sejam não estão imunes às variações climáticas e ambientais. É uma lição que perdura até os dias atuais. Infelizmente, não aceita pela ignorância de alguns céticos.

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