A expressão pétrea “O sertanejo, antes de tudo, é um forte”, que no nordeste teve a introdução da palavra “nordestino” substituindo “sertanejo”, cunhada no início do século vinte pelo escritor Euclides da Cunha no seu histórico livro “Os Sertões” começa a sofrer algumas oscilações. A explicação para a perda desta fortaleza nordestina está num estudo realizado recentemente por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná.

Segundo esses pesquisadores que analisaram 1 milhão de óbitos por infarto no período de 2000 a 2010, enquanto nas regiões sul e sudeste houve uma queda de 25%, no nordeste apareceu uma alta de 34% entre os homens para grupos de 100 mil habitantes. Em outras palavras, o nordestino está morrendo mais por problemas cardíacos. O que mudou na vida do nordestino para justificar este quadro? Aquele homem forte, exaltado em prosa e verso, que suportava todas as agruras dos repetidos anos de seca estaria sucumbindo?

Uma explicação pode estar nas mudanças dos hábitos alimentares do homem do nordeste. A culinária nordestina notabilizou-se durante muitos e muitos anos por suas características “sui generis”. O cuscuz, a tapioca, o mungunzá, a macaxeira, a batata doce, o inhame, o feijão verde, o feijão de corda, o baião de dois, o queijo de coalho, a coalhada, a canjica, a pamonha, o leite mugido, a paçoca, a carne de sol, entre outros são alimentos que atravessaram muitas gerações e ainda hoje mantêm os seus sabores e maneiras tradicionais de preparar.

Mas, a vida moderna e o aumento do poder aquisitivo afetaram muito a mesa do nordestino. Os alimentos tradicionais à base de milho, feijão, mandioca e carnes foram substituídos paulatinamente por produtos industrializados. Estes alimentos são muito mais calóricos e possuem um teor elevado de sódio. As consequências dessa mudança alimentar são o agravamento de fatores de risco cardíaco e o surgimento de doenças como hipertensão, diabetes e obesidade mórbida.

Estudiosos desse tema asseguram que um dos ônus decorrente do crescimento econômico dos países emergentes é o visível aumento do número de mortes por doenças cardiovasculares. Se nas regiões sul e sudeste do Brasil, os índices de mortalidade por infarto estão praticamente estacionários nos últimos anos, aqui no nordeste a tendência ainda é de aumento. A estabilidade dos valores no sul e sudeste pode ser creditada às facilidades de acesso aos serviços de saúde. Nesta área existe muita carência não só no nordeste como no norte do país.

Para reverter esse quadro são indispensáveis maiores investimentos em saúde pública. Mesmo com a nossa Constituição garantindo o direito à saúde, muito pacientes nordestinos de baixo poder aquisitivo são obrigados a apelar para a Justiça para ter gratuidade de determinados medicamentos. Apesar de tudo, dependendo de vontade política, os riscos podem ser perfeitamente controláveis e muitas dessas mortes poderiam ser evitadas.

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